Atividade física e câncer
Existem muitas maneiras de dizermos ao nosso corpo o quanto que ele é importante, que nos preocupamos e procuramos respeitar os seus sinais.
Talvez a melhor forma de colocar isso em prática é deixá-lo fazer o que ele faz melhor: MOVIMENTAR-SE!
Nós fomos feitos para isso!!! Porém o que vemos hoje em dia, é que as pessoas estão reduzindo seus níveis de atividade física no dia-a-dia, tornando cada vez mais sedentárias.
Muito tem se falado hoje sobre os benefícios da atividade física e do exercício na nossa saúde e no bem-estar, e mais recentemente, que estes são uma arma poderosa na prevenção do câncer.
Vamos entender então como isso é possível:
Primeiramente, precisamos pensar que a atividade física é, na sua essência, qualquer movimento corporal produzido pelos nossos músculos sempre resultando em gasto de energia e consumo de calorias maior do que quando estamos em repouso. Realizamos atividade física em vários momentos do nosso dia, muito impactada pelo nosso ambiente e estilo de vida, como por exemplo:
- Em nossa rotina de serviços domésticos (ex: lavar, cozinhar, limpar a casa);
- Caminhando para o trabalho ou até os transportes públicos, passeando com o cachorro ou descendo as escadas do prédio;
Já o exercício físico, é uma atividade estruturada, programada, envolvendo uma sequência sistematizada de movimentos, com duração e objetivos específicos (por ex: melhorar o condicionamento físico, a capacidade cardiorrespiratória ou aumentar a força muscular). A quantidade de exercício também é importante pois ela influencia os efeitos e os potenciais benefícios no nosso organismo. Exercício leves são exercícios cuja prática tem baixa queima calórica, não eleva a frequência cardíaca, e podemos executar sem esforço, quando por exemplo conseguimos falar ou cantar durante a atividade, sem esforço. Já os de intensidade moderada são aqueles exercícios que elevam a frequência cardíaca, o gasto calórico e o individuo fica ofegante durante a prática. Os exercícios de alta intensidade exigem uma queima elevada de calorias e a frequência aumenta consideravelmente, (por ex: correr, praticar dança de salão, jogar tênis, andar de bicicleta em alta velocidade, entre outros).
Você já deve ter escutado, ou até mesmo aconselhado alguém em tratamento oncológico, na sua rotina de cuidados a ficar mais em repouso. Hoje já se sabe que, quanto mais ativo o individuo for, menor as chances de ter câncer, ou para aquelas pessoas que já passaram por ele, de ter um retorno da doença. Nestes últimos anos, houve um crescente aumento de pesquisas cientificas mostrando os vários benefícios da atividade física na área oncológica, que ela é segura e possível, durante todo o tratamento do câncer, e pode amenizar muitos dos efeitos colaterais do tratamento, além de melhorar a energia, o humor e a qualidade de vida.
Mas então qual é a relação entre a atividade física e a redução de risco de câncer, e seus benefícios durante e após os tratamentos oncológicos?
Muitas pesquisas investigam essa relação e os inúmeros benefícios do exercício físico em todo o nosso organismo, que podem prevenir o câncer, veja alguns deles:
- Quadros de inflamação crônica que pode chegar a danificar o DNA das células;
- Podem ajudar a reduzir níveis de certos hormônios sexuais como o estrogênio;
(O exercício físico pode atuar no sentido de reduzir dos níveis circulantes de estrogênio, e levar a uma diminuição do tecido adiposo e do correspondente estado de inflamação crônica no organismo e melhora da sensibilidade à insulina, além de reduzir também os níveis de insulina no jejum e de IGF-1. Desta forma o exercício físico regular pode ser uma estratégia eficaz para a redução de vários tumores, como o de mama.)
- Diminuir e controlar a glicemia e reduzir os níveis de insulina no sangue;
(A redução dos níveis de insulina pode ser explicada pelo aumento da necessidade de energia e portanto de transporte de glicose para dentro das células musculares, liberação de glucagon e também da ação das catecolaminas. Como o exercício estimula a liberação de glucagon, e esse hormônio atua de forma antagônica à insulina, esta última tem sua liberação diminuída quando existe trabalho muscular, principalmente como forma de tornar a glicose mais disponível para a atividade. Além disso, as catecolaminas, cuja concentração é aumentada durante o exercício, têm a propriedade de baixar os níveis de insulina. A supressão de insulina é proporcional à intensidade do exercício, sendo que, em exercícios mais prolongados, existe um aumento progressivo na obtenção de energia a partir da mobilização de triglicerídios, decorrente da baixa observada nos níveis de glicose que foram sendo degradados - e da ação do glucagon.)
- Melhorar a função imunológica;
(O exercício físico praticado regularmente pelos indivíduos parece estar relacionado ao aumento da resposta dos mecanismos de defesa. Por outro lado, as respostas do nosso organismo ao exercício físico agudo podem influenciar e modificar tanto parâmetros da nossa imunidade celular quanto humoral, levando frequentemente a um aumento na concentração de células-troncos de defesa como os linfócitos T e de leucócitos na circulação. Dependendo dos parâmetros específicos de tipo, intensidade e duração do exercício físico, estes podem aumentar o recrutamento e a ação das células NK no sangue, aumentando a proteção contra infecções intracelulares como vírus bem como uma ação antitumoral de células neoplásicas.)
- Redução de gordura corporal, controle e redução de peso.
(Hoje sabemos que exercício físico pode ter ação direta na modulação do metabolismo da gordura, ou seja no consumo e armazenamento de energia do organismo. Por exemplo, os exercícios predominantemente aeróbicos como caminhada, corrida, natação), além de melhorar o condicionamento físico das pessoas, podem reduzir mais eficazmente o peso corporal de indivíduos, por serem responsáveis por um gasto energético e calórico maior.)
Você sabia ...
- Estima-se que 35% de mortes por câncer no mundo a cada ano sejam atribuídas aos fatores de risco modificáveis relacionados ao estilo de vida, dentre eles a atividade física exerce um papel imprescindível. É muito importante a conscientização para a mudança efetiva e principalmente duradoura do estilo de vida, e a prevenção de inúmeras doenças, como o câncer.
Diversos órgãos internacionais de pesquisa, vêm divulgando orientações baseadas em evidências científicas para indivíduos que passaram ou estão passando pela experiência do câncer. O Colegio Americano de Medicina Esportiva (ACSM) por exemplo, atualizou suas diretrizes baseadas nas pesquisas mais recentes, mostrando resultados que impressionam:
- Praticar exercícios aeróbicos de intensidade moderada à vigorosa por pelo menos 75 a 150 minutos por semana e associar também os exercícios de resistência duas vezes por semana, pode diminuir o risco de morte entre os canceres de maior prevalência (mama, próstata e colon) ao redor de 40 a 50%.
- Outros estudos também associaram a prática de níveis mais altos de atividade física, com exercícios vigorosos (ex: corrida e ciclismo), há uma redução do risco relativo entre 10% e 20% para alguns canceres como: colon, bexiga, mama, endométrio, gástrico, esofágico e renal.
E durante o tratamento oncológico?
Após o diagnóstico de câncer e durante o tratamento, a realização de exercícios físicos tem um papel importante no alívio dos efeitos colaterais da doença e seus tratamentos, contribuindo muito para aumentar o bem-estar e a qualidade de vida nessa fase. De acordo com os especialistas, é comum a indicação de que os pacientes realizem minimamente exercícios aeróbicos de intensidade moderada por pelo menos 30 minutos três vezes por semana (150 minutos) ou exercícios de resistência duas vezes por semana 20 a 30 minutos e alongamentos, para ter benefício no controle de diversos sintomas como:
- fadiga,
- ansiedade,
- quadros de depressão,
- edema e linfedema,
- náuseas,
- redução de massa óssea,
- declínio do condicionamento físico.
E lembre-se, a atividade física moderada é sempre a mais indicada e traz inúmeros benefícios à saúde do paciente de câncer, como:
- Melhora da aptidão cardiorrespiratória,
- Redução da fadiga e náuseas,
- Melhora dos quadros de ansiedade e depressão,
- Melhora dos distúrbios do sono,
- Melhora da cogniçnao,
- Redução dos quadros de dor (mialgias, artralgias...),
- Ativação do sistema imunológico,
- Manutenção e ganho de massa muscular e óssea,
- Melhora na auto-estima,
- Melhora da percepção de bem-estar físico e mental,
- Fortalecimento do sistema imunológico,
- Integração social.
Mas saiba que alguns pacientes podem ter sim limitações, e em algumas situações a prática de exercícios podem até ser contra-indicada. Mesmo quando há alguma restrição, é possível buscar alternativas de baixo impacto, que pode parecer pouco, mas contribuem muito para o tratamento e para o bem-estar.
Antes de começar
É muito importante que antes de iniciar você converse com seu médico e procure um profissional apto a lhe acompanhar. A prescrição da atividade física e do exercício requer orientação, avaliação individualizada e constante monitoramento.
Como começar? Confira algumas dicas...
- Convide amigos para caminhar,
- Não deixe que os dias de chuva ou de desanimo te impeça de movimentar-se,
- Busque atividades que lhe trazem,
- Experimente vários tipos de exercício e hobbies até encontrar um que goste mais,
- Estabeleça metas possíveis,
- E não se esqueça de proteger a sua pele e de manter-se hidratado durante o exercício.
Lembre-se, as mudanças dos nossos hábitos de vida requerem vontade, empenho e regularidade. Mas este movimento para cuidar de você vale pena!
Kamila Adorni e Tania Tonezzer
Fisioterapeutas e Fundadoras do OncoMovimento
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Referências:
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